Aprender é mudar. Mudar para melhor é sinónimo de desenvolvimento pessoal. E inevitavelmente por auto-iniciativa ou por imposições da vida, a mudança acontece em nós. Mas, por vezes quando mais desejamos e necessitamos mudar algo, somos invadidos por um conjunto de obstáculos e auto-sabotagens que nos retiram capacidade para efectivarmos a mudança desejada. As dificuldades de mudança fazem sentir-se porque queremos defender a nossa imagem, ter uma noção positiva de nós mesmos, sermos amados e apreciados. Ter a noção que temos de mudar, é uma questão generalista, pode mexer com todo o nosso ser, retira-nos capacidade, responsabilidade, respeito a nós mesmos, e como tal, coloca-nos no alvo da auto-sabotagem, da vitimização e do sentimento de culpa. É paradoxal, como podemos mudar algo que não tem os valores suficientes para se mudar a si mesmo? De que serve um pobre pedir a um pedinte.
“Você não pode mudar o que você é, só o que você faz.” – Philip Pullman
NÃO FAÇA DISPARAR O SEU MECANISMO DE DEFESA
O que estou a abordar, pode parecer paradoxal dado que muitos autores e personalidades apontam para a mudança de nós mesmos como o primeiro passo a ser dado para a melhoria. Eu concordo com grande parte dessas frases, afirmações e ideias. O que temos que mudar é a interpretação taxativa do que esse conceito nos transmite e igualmente o impacto que essa leitura tem no nosso eu. O nosso eu é muito avesso e altamente resistente a qualquer tentativa que se oponha a si mesmo. O nosso eu dificilmente é penetrável ao desdém, à renúncia, ao afastamento daquilo que somos, à humilhação, à crítica. Perante este cenário, cada vez que conscientemente ou subconscientemente recebemos a ideia de mudança de nós mesmos, tendencialmente somos lidos como uma afronta à nossa pessoa, ao amor, à estima, à consideração, orgulho e admiração que temos de nós próprios. E desafiar-nos a nós mesmos de forma perniciosa, certamente o resultado será de insucesso. O mais forte, o seu eu como um todo, vencerá a sua vontade de mudança de você mesmo. É como um sistema de protecção que corre automaticamente perante a ameaça de invasão do seu eu.
Por exemplo: Quando foi a última vez que você encontrou alguém e disse: “Olá, você pode por favor rejeitar-me? Sabe, é que eu realmente prospero e sinto-me incrivelmente bem sobre mim mesmo em ambientes de rejeição e de ódio. “
Certamente isso não acontece. Porquê? Porque fomos feitos para o amor, afecto e aceitação. Basta ligar o rádio e a televisão por dez minutos para descobrir que o coração humano está na fila da frente. Os filmes são centrados em torno dele, a nossa realidade mostra que as pessoas procuram serem aceites e amadas. Podemos confirmar isso no enorme impulso que as estrelas pop têm para cantar sobre o amor. O coração humano quer ser amado. Isso verifica-se desde a nascença, todos nós necessitamos de carinho, afecto, aceitação e amor para que possamos desenvolver-nos de forma saudável e emocionalmente equilibrados.
A ciência tem vindo a provar que os nossos cérebros funcionam melhor quando sabemos que somos amados. Estou seguro em dizer que, por causa de pessoas magoadas e ressentidas ferirem outras pessoas, provavelmente algumas não conseguirão sentir o amor e carinho que necessitam, independentemente do quão incrível os seus pais sejam ou possam ter sido. Nós somos seres imperfeitos num mundo imperfeito, e passamos aos outros o que foi passado para nós. Quando não recebemos o amor necessário a um bom desenvolvimento, ou quando ele é pervertido e cruel, o nosso coração pode sofrer traumas emocionais catastróficos. Um trauma pode instalar-se quando alguma coisa ou algo que já lhe aconteceu, afecta a sua capacidade para lidar com a dor, e a mágoa sentida é superior à sua capacidade de gerar alegria.
Partindo da ideia anterior, não pretendo ser radical ao ponto de transmitir que nós não mudamos enquanto pessoas, ou que não podemos ou não devemos mudar a nós mesmos. Nada disso, o que pretendo transmitir é que para mudarmos a nós mesmos deveremos seguir uma abordagem de sucesso e que possa ser pacificamente aceite, sem que accione o nosso mecanismo de defesa e vá contra o impulso inato que todos temos para defender a nossa imagem e nossa forma de ser. Por esta razão é mais sensato e autocita-se comprometermo-nos em mudar alguns comportamentos em nós, do que usarmos a frase generalista: mudar a si mesmo. No final, é isso que se pretende: mudar algo em nós mesmos para melhor.
A reter: A técnica a implementar é mudar através da mudança de comportamentos, o que será melhor aceite por nós. Não nos ofende, não nos diminui a auto-estima, nem faz emergir frustração no nosso ego.
MUDE A SUA ATITUDE E NÃO A SI MESMO
Se percebe que gostaria de ser mais como o seu amigo, ou alguém de referência que considera um modelo, não faça apreciações depreciativas acerca de você. Não se compare pela negativa. Aprecie sim o que gostaria de ver em si mesmo e faça algo que permita implementar esse comportamento, forma de ser, ou atitude que achou poder beneficiá-lo. Faça o que os adultos deveriam fazer na educação comportamental aos seus filhos. Os pais devem manter o amor incondicional aos seus filhos, mesmo na hora da desaprovação ou repreensão. Por exemplo, se um pai quer reprovar um comportamento de uma criança pode seguir duas vias:
A positiva e construtiva: “O pai não gosta que quanto ficas nervoso comeces a dar pontapés nos teus brinquedos.” – Desaprovação do comportamento.
A negativa e destrutiva: “O pai não gosta de ti quando ficas nervoso e dás pontapés nos teus brinquedos.” – Desaprovação da criança.
O primeiro exemplo é focado apenas no comportamento, o que é correto e assertivo. O segundo exemplo é focado na criança e no seu amor por ela, o que é incorrecto e destrutivo.
Cada vez que a auto-imagem, auto-estima e autovalor é afectado negativamente, pelos outros significativos ou por nós mesmos, colocamo-nos em causa. Podemos questionar o nosso próprio valor enquanto pessoas e com isso denegrirmos a imagem que temos de nós mesmos. Isto pode ter um duplo impacto negativo:
- Bota-nos abaixo.
- Associamos a nossa desvalorização à incapacidade de mudarmos a nós mesmos, dado que nos sentimos “vitimizados” e consequentemente com uma justificação plausível para não conseguirmos melhorar os nossos comportamentos.
Este ciclo negativo de desvalorização e justificação das incapacidades pode levar a que a pessoa se mantenha “presa” em si mesmo, fazendo sempre mais do mesmo. Gera-se um conflito interno enorme. A pessoa sabe que tem coisas em si que precisam de ser mudadas, que necessitam da sua atenção e dedicação, mas sente-se impotente para fazer algo para sair dessa paralisação, isto porque foi-se acostumando a olhar para si como alguém que não consegue ser eficaz na mudança a que se propõe, devido à sua baixa capacidade para tal. Este conflito interno é alimentado pela dupla desvalorização anteriormente referida.
Dica: Torna-se primordial e tente perceber se os seus hábitos é que paralisam ou potenciam a sua vida?
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