Todos os dias tomamos decisões. Sejam decisões para agir ou para assumir uma opinião ou ponto de vista, todas as decisões que tomamos diariamente afectam o nosso futuro. E se há uma coisa que caracteriza o futuro, é a incerteza.
Na gestão, o processo de tomada de decisão é fulcral (Peter Drucker afirmava que "gerir é decidir"). Não admira pois que as técnicas de tomada de decisão, que ajudam a lidar com a incerteza, sejam, assim, técnicas de grande valor para os gestores.
Curiosamente, duas visões opostas defendem técnicas opostas para a tomada de decisão. A técnica mais comum defende que quanto mais factos forem recolhidos, melhor será a tomada de decisão. A outra visão, baseada em resultados de investigações recentes, afirma que as decisões tomadas intuitivamente são melhores, porque o decisor utiliza toda a sua experiência acumulada (mas inconsciente) para reconhecer os "sintomas" que indicam o verdadeiro problema.
O processo de tomada de decisão
As decisões têm significado apenas no contexto dos objectivos. Se não houver um objectivo a ser alcançado, não interessa muito qual a decisão a tomar. Para usar um exemplo extremo, se o leitor não se importar com a sua vida, a decisão de saltar para a frente de um comboio ou ficar parado é indiferente, na medida em que está não lhe interessa viver ou morrer. Nas empresas, as decisões têm de ser tomadas em função dos seus objectivos estratégicos: crescer, diversificar, internacionalizar ou inovar são os alvos que condicionam as decisões de gestão.
Assumindo que os objectivos da empresa são claros, a tomada de decisão em gestão envolve a escolha do plano de acção que permita atingir esses objectivos com a maior probabilidade. Este processo envolve normalmente a análise e escolha das várias alternativas disponíveis. Na prática, este processo é difícil, dadas as incertezas envolvidas. Informação completa raramente está disponível e mesmo que esteja, muita coisa pode mudar assim que a decisão seja implementada. Como os outros reagem à nossa decisão também pode influenciar a forma como a decisão funciona na prática (de facto, a concorrência pode reagir muito rápida e eficazmente).
O processo de tomada de decisão geralmente passa por duas fases distintas. Em primeiro lugar, pela análise do problema, que normalmente tem um impacto negativo no desempenho desejado. Através de análises causa-efeito, é possível identificar e visualizar claramente os factores que causam os problemas. A correcta análise do problema é meio caminho andado para a sua resolução, enquanto uma análise incorrecta leva normalmente a grandes desperdícios de recursos.
Na segunda fase, os resultados da análise do problema são utilizados para seleccionar um curso de acção adequado. Nesta fase, as alternativas disponíveis são clarificadas e consideradas avaliando-se a probabilidade de cada uma contribuir para a concretização dos objectivos. Os próprios objectivos terão de ser classificados em função da sua prioridade, atribuindo-se maia peso à realização dos objectivos mais importantes.
A tomada de decisão pode ser mais difícil em função das incertezas envolvidas, não só na definição do problema como também nas consequências da decisão. Informação inadequada ou intempestiva pode fazer do exercício de análise do problema uma perda de tempo. Incertezas quanto ao futuro e reacções de outros intervenientes podem tornar as consequências da decisão difíceis de prever.
Segundo Choo (2003) as decisões resultam da adopção de um determinado curso de acção, e facilitam esta acção na medida em que definem e elaboram propósitos e alocam e autorizam o dispêndio de recursos.
Portanto, o processo decisório pode ser visto como um conjunto de acções e factores que têm início a partir da identificação de um estímulo para a acção e que se finaliza com o compromisso específico para a acção.
Harrison (1993) cita que cada decisão deve levar em conta determinados aspectos, e que não há uma fórmula pronta que se aplique a todos os casos. Para este autor, o modelo processual de tomada de decisão pode ser a escolha ideal no caso de decisões que terão consequências de longo prazo, ou seja, decisões de carácter estratégico.
Mintzberg et al. (1976) cita os processos decisórios não-estruturados, que se referem aos processos decisórios para os quais não existe, de forma pré-determinada e explícita, um conjunto de respostas ordenadas na organização.
Simon (1976) afirma que os homens são racionalmente limitados: quando tentam ser racionais, o seu comportamento racional é limitado por suas capacidades cognitivas e por restrições da organização. Os tomadores de decisão adoptam estratégias reducionistas para simplificarem a complexidade dos problemas:
Simon (1976) afirma que os homens são racionalmente limitados: quando tentam ser racionais, o seu comportamento racional é limitado por suas capacidades cognitivas e por restrições da organização. Os tomadores de decisão adoptam estratégias reducionistas para simplificarem a complexidade dos problemas:
• Preferem a ‘solução satisfatória’ à ‘solução óptima’, ou seja, a decisão é orientada pela busca de alternativas suficientemente boas, e não pela busca das melhores alternativas possíveis;
• Procedem de forma a descobrir, gradativamente, as alternativas e consequências no processo de busca;
• Os programas de acção servem como soluções alternativas recorrentes;
• Cada programa específico de acção lida com um número restrito de situações e consequências;
• Cada programa de acção pode ser executado com uma relativa independência – sem ligações rígidas.
Um último aspecto importante a considerar prende-se com os preconceitos, quer cognitivos quer pessoais. Os gestores podem nem sequer ter consciência das forças ocultas que influenciam as suas decisões.
Por todas as razões acima expostas, as técnicas formais de tomada de decisão ajudam a gerir, resolver problemas e atingir objectivos - até certo ponto, como veremos.
Técnicas de tomada de decisão
Árvores de decisão são representações gráficas dos problemas e do impacto das decisões tomadas. Se for provável que chova, por exemplo, o leitor pode decidir munir-se de um guarda-chuva quando sair. A árvore de decisão neste caso irá representar um nó com a pergunta: É provável que chova? Irá então representar dois caminhos de decisões possíveis: um para a resposta sim e outro para um não como resposta. É claro que o contexto de decisão nas empresas seja muito mais complexo do que este, pelo que na maioria das situações terá de construir árvores de decisão com muitos ramos.
Diagramas de Influência procuram retratar todos os factores que possam influenciar as decisões e as suas inter-relações. Por exemplo, o objectivo de vender a um preço superior normalmente influencia a sua decisão de investir numa acção. Os movimentos nos câmbios influenciam as suas expectativas sobre o aumento ou queda de preços no futuro. Os próprios movimentos de preços podem ser influenciados por "sentimentos" por parte dos investidores ou pelo desempenho da empresa. Pela representação em diagrama de todos estes factores que influenciam as decisões das relações entre si, terá uma ideia clara do que deve considerar nas suas decisões.
A análise de decisões é um conjunto de procedimentos complexos, que visa:
• Identificar e avaliar a situação;
• Prescrever um curso de acção recomendado maximizando a probabilidade de alcançar os objectivos;
• Representar a decisão de forma estruturada, incluindo a escolha de diferentes cursos de acção para diferentes cenários;
• Fornecer uma visão clara do processo de decisão (não só para o tomador de decisão como para outras pessoas envolvidas).
· A análise de decisão visa integrar o processo:
• Os objectivos a serem alcançados em função da sua prioridade;
• As incertezas envolvidas, através de diagramas de probabilidade;
• As alternativas disponíveis, juntamente com os riscos associados a cada uma;
• A atitude do decisor em relação aos riscos e a objectivos conflituantes.
· As abordagens de análise de decisão têm sido muito criticadas, quer pela sua complexidade quer pela sua artificialidade. A maior parte das pessoas não pensa desta forma tão "mecânica" quando toma as suas decisões. Muitos cépticos acham que esta abordagem não melhorou a qualidade das decisões.
· Para os que não gostam de técnicas muito complicadas, as técnicas mais comuns usadas no dia-a-dia incluem:
• Listagem dos prós e contras de cada alternativa;
• Escolher a primeira opção que parece susceptível de produzir os resultados desejados;
• Permitir que outros tomem as decisões e seguir as suas instruções;
• Técnicas aleatórias como atirar uma moeda ao ar, ou a adivinhação.
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