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terça-feira, 2 de setembro de 2014

Visão Holística da Administração.

setembro 02, 2014



Vivemos num mundo de contrastes extremos. Por um lado, um progresso extraordinário, que teve como fundamento o acervo de conhecimentos gerados pela revolução científica, ocorrida nos séculos XVI e XVII, base para os imensos avanços que presenciamos diariamente em todos os ramos de actividades. Por outro lado, pobreza, miséria, fome, ignorância e destruição, sobretudo, destruição proveniente do próprio progresso que a humanidade foi capaz de produzir. Pela primeira vez, na história, estamos diante da possibilidade do suicídio colectivo, seja em decorrência de uma guerra nuclear, seja em decorrência da agressão sistemática ao meio ambiente, como vem acontecendo actualmente com a destruição da camada de ozónio da atmosfera, das chuvas ácidas e acidentes do tipo Chernobyl.



Estamos numa verdadeira encruzilhada, onde as questões que se colocam não dizem mais respeito ao progresso em si, ou seja, ao progresso pelo progresso, mas sim, ao progresso para que e, sobretudo, a como responder com propriedade às mudanças dramáticas que vem ocorrendo actualmente. Entre estas mudanças podemos mencionar:

  1. passagem do predomínio da vida rural para a vida urbana, em que o nível de emprego do sector terciário (serviços) superou o dos sectores primário (agricultura e extrativismo mineral) e secundário (indústria), acarretando, entre outras coisas, mudança da actividade física para a actividade sedentária;
  2. do isolamento para a interconexão, com a transformação do mundo em “aldeia global”, e as passagens da vida estacionária para a mobilidade e da auto-suficiência para o consumismo;
  3. aceleração da velocidade dos acontecimentos, com o nível de conhecimentos gerados sendo duplicado a cada 

4 anos. Ambiguidade, incerteza e insegurança passaram a fazer parte do nosso dia a dia.

É dentro deste contexto que o papel das organizações será fundamental. De acordo com Bertrand Russell, no mundo moderno, e mais ainda, tanto quanto se pode imaginar, no mundo de amanhã, conquistas importantes são ou serão quase que impossíveis ao indivíduo, caso ele não domine uma vasta organização.
Um estudo de Anthony Athos e Richard Pascale sobre Organizações chegou às seguintes conclusões:

  • qualquer que seja a sociedade ou cultura, a humanidade descobriu um número limitado de instrumentos para fazer funcionar as organizações;
  • empresas que apresentam bom desempenho ano após ano, não importa a nacionalidade, tendem a ter muito em comum
  • a realidade gerencial não constitui um absoluto; ao contrário, é social e culturalmente determinada. Em todas as sociedades e culturas, seres humanos que se reúnem para realizar certos actos colectivos defrontam problemas comuns ao estabelecer direcção, coordenação e motivação. A cultura influencia o modo como estes problemas são percebidos e resolvidos.
Assim, considerando-se que a percepção é a chave do comportamento, uma vez que as pessoas não se comportam de acordo com a chamada “realidade objectiva”, mas sim de acordo com a realidade percebida, ou seja, de acordo com o mapa mental que formam da realidade, a questão da cultura organizacional e dos paradigmas passa a ser um dos focos principais da administração. E, é neste aspecto, que a administração holística tem uma contribuição extremamente significativa na solução do dilema por que passa a humanidade no momento presente.Mas para que possamos entender qual o papel da administração holística, é preciso que compreendamos os dois paradigmas científicos existentes actualmente. O primeiro, é o paradigma mecanicista, que surgiu com a revolução científica. A ideia básica é a seguinte: Para que conheçamos o todo devemos conhecer as partes, ou seja, dissecá-las e, por justaposição das mesmas podemos compreender a totalidade. O grande modelo deste paradigma é o relógio, que ao tempo de Descartes era o equipamento mais sofisticado. Toda a Revolução Científica estava montada neste paradigma. Foi ele que permitiu a revolução industrial do Século XVIII e todo o progresso posterior. Bacon, Kepler, Copérnico, Galileu, Descartes e Newton foram as contribuições mais importantes na elaboração do modelo mecanicista.

O outro paradigma surgiu no início deste século, quando se buscou conhecer alguns fatos, que o paradigma mecanicista não conseguia explicar, como os relativos à electricidade e ao magnetismo. Tem por base a teoria da relatividade, a física quântica e a biogenética.
Entre as conclusões que podem ser extraídas do novo paradigma, e que estão em contradição com o paradigma mecanicista, na sua forma clássica, estão as seguintes:

  • todos os fenómenos estão inter-relacionados;
  • para se conhecer as partes é preciso conhecer o todo;
  • não há um modelo que explique todos os fenómenos;
  • o observador não é neutro. Ele influencia os fenómenos que observa;
  • visão do mundo, passa a ser orgânica, holística e ecológica;
  • o universo está em transformação e, portanto, não pode mais ser considerado como um grande relógio.
Na realidade, está mais próximo de uma grande mente.Expressões como “cada um por si”, ou “cada um que trate da sua parte que o resto se resolve”, são típicas do paradigma mecanicista. Taylor, igualmente, está ligado ao mecanicismo. Em administração, a experiência de Hawthorne, foi uma das primeiras a demonstrar as limitações do paradigma mecanicista para explicar fenómenos de natureza psicossocial.

Já expressões como as de Thomas Merton: “homem algum é uma ilha”, ou Ortega Y Gasset: “eu sou eu e as minhas circunstâncias”, tem a haver com o paradigma holístico.Em administração, o paradigma holístico, além das bases provenientes da física nuclear e da biogenética, está assentado nos seguintes fundamentos:

  • princípios éticos ligados a conservação, manutenção e qualidade de vida.
  • concepção sistémica, teoria e prática do Comportamento Organizacional e gerência participativa
  • princípio do hologramaDeste conjunto de contribuições que embasam a administração holística, alguns pontos devem ser enfatizados:

A administração holística não considera as organizações como sistemas fechados, prontos e acabados, mas como sistemas abertos e em constante transformação. Assim, uma empresa não é holística, mas está holística. Porque não está voltada para elementos isolados, mas para os relacionamentos, tem como um dos seus principais objectivos a obtenção de sinergia. De acordo com Joseph Chilton Pearce, a obtenção de sinergia deve ser considerada como o verdadeiro padrão de inteligência de uma pessoa. De acordo com o princípio do holograma, que em última instância corresponde ao dito oriental de que num grão de areia está contido todo o universo, ou seja, o todo está contido nas partes e as partes contém o todo, devemos considerar que a empresa inteligente é aquela que obtém sinergia nos seus relacionamentos internos e externos. Algumas coisas podem contribuir para isto, entre elas a estrutura celular ou em rede, a simplificação (não confundir com simplismo), e consequentemente, o não desperdício e a desintermediação, a busca da excelência e da qualidade em todos os sentidos, inclusive, ou talvez sobretudo de vida.

Uma outra virtude, extremamente necessária para se obter sinergia é a da flexibilidade pessoal e organizacional. Considera-se flexibilidade como sendo comportamento adequado a cada contexto. Devemos considerar dois tipos de flexibilidade. A estratégica e a táctica.

 Por flexibilidade estratégica entende-se a capacidade de se manter ou se mudar de objectivos. Está relacionada com a sabedoria, a capacidade de diagnosticar e de definir objectivos relevantes. Por flexibilidade táctica entende-se a capacidade de se encontrar os meios necessários para se alcançar determinado objectivo. Está relacionada com o repertório. Assim, acção e reflexão passam a ser um binómio inseparável da actividade organizacional, contrapondo-se a procedimentos mágicos ou mecanicistas.

Numa cultura holística, o clima organizacional é positivo e de apoio. Os empregados estão identificados com a organização e sua filosofia, inexistindo, assim, alienação e polarização, que são dois dos factores mais corrosivos da vida organizacional. As normas sociais existentes visam, e são percebidas como considerando, o ser humano em todos os seus níveis de necessidade.

Duas questões devem ainda ser consideradas. A primeira é a questão do tempo. Ou mais precisamente do tempo real. De acordo com estudos de George Stalk Jr., empresas que agem com maior rapidez maximizam qualidade, inovação e satisfação dos clientes. A outra questão está relacionada a predominância do sector terciário. Com isto, embora software e hardware formem um binómio inseparável, o software passa a ter prevalência sobre o hardware.

Para os desafios de um novo tempo, há necessidade de um novo paradigma. E a administração holística é a resposta deste novo paradigma

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